Tem um tempo que meu marido comprou um pacote de pirocópteros. Pra ser mais precisa, Betinha ainda era pequena e Edgar não era nascido. Não sou muito fã desse brinquedo, ele exige uma habilidade que não tenho e ainda corre o risco de ir pro telhado do vizinho se lançado no quintal. Por isso nunca peguei pra brincar. Meu marido brincou uma única vez, no dia que trouxe o pacote; depois disso, hastes e hélices de plástico passaram esquecidos no armário da cozinha, atrás da caixa de remédios.
O tempo passou, a pandemia chegou, e uma mãe passou a não aguentar mais ver os filhos mofando diante de aparelhos eletrônicos. Inventou de pular corda com eles, de se contorcer no Twister, de riscar na lousa, de explorar o matagal perto de casa. Até que um dia seu marido reencontrou os esquecidos pirocópteros por acaso, enquanto procurava um medicamento específico.
Não demorou para o primeiro pirocóptero rever a luz do dia e bater na lâmpada da cozinha. Decidi unir o medo de quebrar tudo dentro de casa ao agradável, e fomos soltar os brinquedos voadores na rua.
Quando se tem dois filhos ou mais, é interessante observar suas diferenças. Betinha, como eu, não é lá muito coordenada para atividades manuais; a bichinha não conseguia lançar o brinquedo. Ela tentava, mas quando não esbarrava o polegar na hélice, deslizava as palmas de mau jeito, e o pirocóptero ia direto ao chão.
Enquanto isso, Edgar lançava seu pirocóptero. O brinquedo chegava a atingir o telhado da construção perto de onde estávamos, parecia que desapareceria nas nuvens. E ele nunca havia brincado com pirocóptero até então.
Betinha prestava atenção no irmão, no segredo dele para lançar o pirocóptero. Edgar percebeu que ela estava espantada com as habiidades dele e decidiu "ensiná-la" a fazer o lançamento. Por volta da quarta tentativa após as instruções, o lançamento da Betinha começou a melhorar, e algo interessante aconteceu: Edgar não conseguia mais lançar o brinquedo. Quando o pirocóptero não ia direto pro chão, subia desgringolado, e o porquê disso era visível: Edgar desconcentrou, passou a achar que era só esfregar uma palma na outra. E, de repente, Betinha passou a ser a melhor lançadora de pirocópteros.
E a vida é assim: só conseguimos ser melhores em algo quando estamos dispostos a aprender, e só estamos dispostos a aprender quando erramos. O errar é a semente, o praticar é a irrigação e o melhorar é o fruto. Quando somos bons em algo, tendemos a ficar excessivamente seguros e a achar que o erro é uma improbabilidade. É nesse momento que o orgulho toma conta das nossas habilidades, comprometendo-as.
Permitir-se errar é permitir-se aprender. Erre bastante, erre mais.
Gostei da história Eliza.
Eu era bom em brincar com o pirocoptero.
Saudade desse tempo.