Análise de A Megera, de Rogério Rodrigues.
"Perceberam no silêncio o quanto os corações entre si falavam mais alto. Sentimento recíproco, mas sem desabafar um ao outro. Nenhum dos dois poderia ouvir o pulso ou as batidas do coração, mas se atravessassem a esta escolha, haveriam de perceber que as trocas de olhares e a atenção do momento não era em vão."
Megera é um substantivo para o qual não existe equivalente masculino. Sim, pasmem, gastei meu dia consultando todo tipo de material a respeito. Trata-se de uma palavra relacionada exclusivamente ao sexo feminino, ou seja, na língua portuguesa, só cabe às mulheres serem megeras. Privilegiadíssimas, não?
Deixando de lado semântica e lero-lero, falaremos da intensa novela que trago hoje.
"Seu coração sangrava por ter a certeza viva de que era a prima, a concorrente. Cremilda necessitava ter cautela, pois qualquer deslize poderia distanciar Elmano de vez. Procurava controlar o sentimento e o olhar, mas quando não podia, o olhar a entregava. Fulminava Elmano pelos olhares, não aceitava ser trocada por outra, e o pior pelo mesmo sangue."
Moabe não contava com se apaixonar na noite de formatura de sua irmã, Elmano havia saído de um relacionamento traumático, não esperava se encantar por outra garota tão cedo. Mas ambos se toparam naquela deliciosa noite de verão e viram um no outro a possibilidade de terem encontrado o amor de suas vidas. Trocaram os números de telefones. Passada a festa, Moabe só tinha olhos para as mensagens de Elmano. Enquanto falava com o rapaz, recebeu uma mensagem de sua prima Cremilda perguntando a respeito da festa. As duas começaram a conversar, e o interesse de Cremilda aguçou sobre o tal rapaz que Moabe conhecera.
E o leitor descobre que Cremilda é a ex de Elmano. Ela continua apaixonada, obcecada por ele. Quando fica sabendo que Moabe, sua prima, é a nova paixão de Elmano, passa a executar todo tipo de artimanha para os separar.
"Elmano acreditava ter o direito de ser feliz e com a amada. Segundo ele, Cremilda precisava encarar a realidade e deixá-lo ser feliz. As últimas semanas junto da amada teria sido tão bom, que Elmano, lá do fundo da alma, pedia bis, replay e o direito de prosseguir aquela felicidade."
A narrativa é linear e intensa, digna de uma boa novela literária. As nuances do relacionamento passado de Elmano e Cremilda são apresentadas pela dinâmica de ambos os personagens durante o confronto principal: as tentativas de ele e Moabe viverem um grande amor.
E não só os protagonistas Moabe, Cremilda e Elmano, mas todos os personagens têm aquele ar de "não confie em mim", o que dá à obra um ar eletrizante.
"Cremilda poderia ser valente para levar adiante o pé de guerra por amor a Elmano, mas, na questão de arranhões ou qualquer sangramento, era manhosa. Só faltava fazer um escarcéu."
Apesar de o autor utilizar de uma linguagem simples, é uma leitura que exige atenção devido ao ritmo frenético dos acontecimentos e do uso de figuras de linguagem, recurso que enriquece a narrativa.
Rogério Rodrigues é um autor que não tem medo de fazer críticas comportamentais em suas obras, e A Megera não deixa a desejar em nada nesse quesito.
Li pelo Kindle Unlimited, mas você também pode adquirir exemplares físicos direto com o autor.
Os leitores que agradecem as boas histórias.🥰
Muito Lisonjeado com as palavras. Muito bom ouvir isso justamente de uma ativista literária, escritora contemporânea, resenhista e leitora. Não há palavras. Obrigado mesmo. Já estou compartilhando.