Análise de Demônios da Velha Chicago, de Leandro Domingos.
"Ele vivera uma infância miserável no México até fugir para os Estados Unidos e ser adotado por uma família judaica que vivia em Chicago. Sua cultura era incontestável, porém ele sabia esquecê-la muito bem quando era necessário derrubar um criminoso com apenas um golpe. O tenente gostava quando ligava esse segundo modo. Era um excelente soldado, com um código de honra que estava em extinção."
Sei que a maioria dos leitores odeia assistir a adaptações cinematográficas de suas obras preferidas. Pudera! Infelizmente, é pouco o tempo de tela e muitas as nuances dos romances. Sim, ao contrário do que muitos possam pensar, ter a plenitude dos sentidos ativada não significa sucesso em mensagem transmitida. Na maioria dos casos, o filme não chega aos pés do livro.
Porém, há histórias que leio e penso: caramba! Isso bem que poderia ser um filme!
E é de uma obra desse porte que venho falar hoje.
"Notaram também uma porta extra. Tratava-se de um quarto. Uma cama circular enorme, dourada, com dossel, imperava no centro do ambiente. Quatro janelas em arco ocupavam as paredes, com vista para lugar nenhum, achou curioso o tenente. Ao empurrar as cortinas de seda preta amarradas com fitas vermelhas, Bogado observou que a vista dava para tijolos. 'Caso alguém tentasse pedir ajuda, não conseguiria', pensou. Aquilo já era algo."
Frank Bogado é um tenente da polícia estadual de Chicago, cidade de Illiniois, EUA. É despertado numa manhã com a notícia de um "problema" na interestadual. Descobre que o tal problema é o assassinato brutal e misterioso do russo Viktor Bekmanbetov. A investigação leva Bogado, acompanhado de personagens intrigantes, a adentrar o submundo dos clubes secretos de prostituição, onde caracteres são postos em xeque, trazendo à luz os verdadeiros demônios.
"É procedimento. Quando uma pessoa baleada dá entrada no hospital, o médico responsável deve informar imediatamente às autoridades policiais. Isso dificulta bastante a procura por um atendimento especializado a alguém que não pode ser identificado. Grodek estava há dois dias, deitado, em uma maca improvisada em um porão da periferia de Chicago. O anfitrião era um homem chamado Florya Klimov, um ex-cirurgião soviético viciado em morfina. Era mantido como contato em caso de emergência. Pelo trabalho executado em seu ombro, Grodek imaginava que o tal contato russo não era acionado há aproximadamente dez anos."
Não consigo enxergar um melhor cenário para Demônios da Velha Chicago do que a própria Chicago. A cidade artística e monumental contribui para a estética do livro, que, além de possuir um enredo dinâmico (no melhor dos sentidos), tem uma narrativa altamente visual com o suficiente de detalhes.
Frank Bogado, o protagonista, é um personagem imperfeito e carismático, com dilemas próprios e muito parecidos com os de uma pessoa real a enfrentar o luto e a viuvez. E não só ele, mas as tramas dos personagens secundários também chamam a atenção, visto tratarem de assuntos atuais e relevantes de estrangeiros vivendo nos Estados Unidos.
"Deixou os pensamentos para trás ao ouvir um barulho. Um movimento à esquerda chamou-lhe a atenção. Teve tempo somente de ver a alta figura projetar-se com um sobretudo preto de gola alta. A coronhada na orelha foi rápida e brutal. Bogado caiu como um peso morto sobre o chão."
Além do clima de mistério, a obra também traz à mesa a xenofobia estadunidense em relação a latinos e eslavos, temperando a obra com mais pitadas de realismo.
A mim, basta torcer pra Netflix notar o livríneo e adaptá-lo para as telinhas.
Li pelo KU.
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