Análise de Rino, o ladrão alado, de P. M. Mariano.
"Launir ergueu-se da farta mesa onde ainda desfilavam, diante de seus olhos, bebidas e iguarias que normalmente ele nem sonhava em ver, quanto mais comer. Estava só, apesar de que o restaurante estava cheio, e a conversa parecia, aos seus ouvidos, zumbidos de moscas misturados ao bater de talheres nos pratos."
Não sei quanto a vocês, mas meu sentimento em relação aos mais jovens é algo que oscila entre a esperança e o desespero. Ambos os sentimentos têm uma única origem: nossos jovens são filhos dos millenials, a geração esgotada pelo multitarefa em tempo integral, que passa até o tempo livre se preenchendo de atividades que a aperfeiçoe como indivíduo.
Por isso esperança e desespero caminham juntos. O jovem de hoje será o adulto que canalizará os impactos da geração millenial, que tomará as rédeas do mundo deixado por um bando de gente cansada.
E, apesar de não parecer, essa conversa tem tudo a ver com o livro de hoje.
"— É muito perigoso! Preciso tirá-lo deste buraco e o colocar em mãos certas. — Não se dera em conta do olhar de Djai para com ele; estava afoito. — Esse lugar que chama buraco e, as mãos que diz serem erradas — Rino olhou a Djai atordoado, sentindo a mão forte deste em seu braço, ofendera os brios deste e sabia disto. —, salvaram-lhe a vida mais de uma vez."
Rino é conhecido como um jovem-problema baderneiro, conhecido por todas as línguas como ladrão. Porém poucos sabem que sua motivação está longe de ser vadiagem ou rebelião juvenil. Diferente da maioria do povo de Tauros IV, Rino é um alado puro. Mantendo os firmes ideais de seus antepassados, organiza um plano para libertar o povo do seu planeta do regime autoritário dos Eleitos das Estrelas. Conforme granjeia inimigos e aliados, segredos são revelados, mostrando que Rino é muito mais do que um menino idealista.
"Elaborariam as diretrizes a serem tomadas por cada um, acreditando que o movimento sairia vencedor e que o futuro já não lhes pareceria tão negro. Tinham que se espelhar em Rino e precisavam da força deste para sentir a mesma coragem que o norteava sempre."
Engolidos a partir do primeiro parágrafo, somos transportados a um maravilhoso e complexo sistema cosmológico. Isso fez com que fosse uma leitura difícil pra mim no começo, demorei um pouco para me localizar e compreender o que estava acontecendo, dada a vastidão do universo do livro. Mas foi algo breve, que passou assim que personagens cativantes, interessantes e com personalidade ganharam cena.
Destaque para os conflitos, tanto os políticos como os individuais, ocorridos paralelamente entre os vários personagens. Rino em especial, o protagonista, é enigmático e instigante.
"Agora eles haviam parado aos pés de um velho cipoeiro, uma espécie de árvore que davam uns galhos estranhos, contorcidos feitos cipó, tão grossos e fortes que pareciam feitos de metal. Launir sabia e muito bem que o povo de Lains usava aqueles galhos como cercas, ou mesmo, ferramentas, de tão duros que eram; assim como também sabia que os galhos dos cipoeiros mais jovens eram usados para confeccionar cintos e cordas, assim como fortes arreios para os animais."
Assim como os demais outros títulos da autora voltados ao público infantojuvenil, Rino, o ladrão alado desperta no leitor a sensação de que dias melhores virão; de que há esperança, ainda que tudo pareça estar perdido num futuro vazio. Uma vez que você mergulha nesse universo fantástico, o desejo é de ali permanecer.
Além disso, o livro tem uma capa linda. Li pelo KU.
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