Pensa rápido: qual a primeira coisa que lhe vem à cabeça quando você lê ou escuta a palavra novela?
Sim, eu sei que você pensou na A Força do Querer ou na Salve-se Quem Puder. A galera das antigas talvez tenha pensado em clássicas como Laços de Família ou O Clone. Quem sabe, um pouco mais a fundo na antiguidade, você tenha ressuscitado Tieta ou Mulheres de Areia na memória?
Pouco importa. Independentemente de qual título você tenha se lembrado, saiba que o seu cérebro está certo!
Okay, agora, o que isso tem a ver com Literatura?
Tudo, uai!
Uma das maiores desinformações propagadas por muita gente é a de que as novelas televisivas nada tem em comum com o limbo dos gêneros literários, a incompreendida novela literária.
"Nossa, mas como a Eliza fala besteira! Não tem nada de incompreendida! Novela é maior do que o conto e menor do que o romance, só isso!"
☝ Esse é o primeiro pensamento que você precisa tirar da cabeça pra entender o que é novela como gênero literário.
Sim, claro que existe uma relação com a quantidade de palavras, já que o que faz uma novela ser uma novela acaba colocando-a numa posição intermediária quanto ao seu tamanho. Porém não devemos nos ater a isso como único critério para definir uma obra literária.
Pra nunca mais confundir novela com conto, guarde: conto tem enredo único, enquanto novela tem vários enredos. Um bom exemplo de novela que parece conto por causa do tamanho é A Revolta do Cajuzinho, da autora Michelle Louise Paranhos.
"Tá, mas então o que diferencia a novela do romance?"
O ponto chave aqui também é estrutural, mas outro. Olha o que o professor Massaud Moisés diz:
"Encarada como modo de conhecimento, a novela ilude e mistifica, por imprimir aos episódios um movimento acelerado e cheio de novidades, que não pode ser o do cotidiano. […] Pressupondo que tudo que se conheça, ou que se converta em atos e acontecimentos visíveis, a novela contempla, não indaga, finge, não questiona, fantasia, não interroga." (MOISÉS, Massaud. A criação literária 1. 21º edição. Cultrix. Pg. 112, grifo nosso)
Sim, a grande diferença entre a novela e o romance está no ritmo das ações. Enquanto o romance se preocupa em tecer o contexto psicológico dos personagens, a novela quer apenas contar aquela história.
Isso não significa que uma novela não tem profundidade, seria leviano dizer isso. Dois bons exemplos clássicos são Vidas Secas, de Graciliano Ramos e A Hora da Estrela, de Clarice Lispector; também posso citar o contemporâneo Minúscula Pulga, de Farrel Kautely; são todos livros que você termina de ler chocado ou chorando. E essas emoções são desencadeadas no leitor devido à sucessividade das ações, e não pela introspecção do personagem.
É por isso que a novela literária é uma parente muito próxima da novela televisiva (telenovela), com a diferença de que o show de emoções acontece não por boas atuações, mas por uma boa história escrita por um bom autor.
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