Resenha de Amor de três maçãs , de Annalu Braga.
"A sombra na parede seria a marca dos meus dias a seguir."
Qual a mais grata das funções da Literatura senão a de criticar fundamentos? De os pôr em xeque com argumentações em forma de dilemas existenciais corriqueiros e tramas absurdas?
O livro que trago hoje é na medida perfeita para os amantes de histórias desconfortavelmente questionadoras.
"Resumindo, a cópula era aquilo. Um experimento desnecessário e, por que não enfatizar, um episódio superficial."
Depois de anos de um casamento sólido, o professor Ignácio de Lorna confessa à esposa e à filha que tem uma amante. Heloísa e Julie (mãe e filha, respectivamente) então passam a rever as próprias escolhas feitas na vida até o momento e como tais não passavam de uma sombra de Ignácio.
A vida de ambas muda no momento em que conhecem Florense, a amante de Ignácio. A trama toma um caminho inusitado, e uma chuva de exclamações e interrogações passa a povoar a cabeça do leitor-testemunha.
"A figura de Ignácio se desbotou como um fantasma quando Heloisa e Julie o deixaram com uma avalanche de memórias e desastres."
Com uma narrativa majestosa, Annalu enaltece o feminino em todos os aspectos possíveis (da matéria ao etéreo), elevando o relacionamento amoroso entre as pessoas a um nível de acrescentar por ques e porques de nossos pensamentos (condicionados e não) e ações. É um livro intenso, escrito com palavras escolhidas a dedo para causar o sentimento de imersão no leitor.
"Os opositores dificilmente conseguiam combater o conceito da evolução natural da vida com argumentos morais."
Sim, estejam preparados para uma leitura subversiva e de qualidade, do tipo que fica martelando na cabeça por dias. Também não se deixem enganar pelo tamanho do livro, é do tipo curto, mas denso e marcante. Inesquecível.
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