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Foto do escritorEliza Edgar

Somos tão jovens.

Análise de Madu, de Farrel Kautely.

"A novidade que me colocou pra pensar não é boa nem ruim ainda. Não tenho como saber. Às vezes não tem importância nenhuma e nem vai influenciar minha vida."


O dia a dia é uma caixinha de eventos comuns e extraordinários, sujeitos às nossas decisões após serem por nós encontrados. Sim, a responsabilidade pelo que nos acontece é nossa inteiramente. Terceiros podem nos influenciar? Se assim quisermos. O mal dos millenials é colocar toda culpa do próprio fracasso nos pais, como diz aquela música do Renato Russo, que você ama e dança, sem saber que ela fala de suicídio.

Achou o papo meio doido? Calma, pois é só um esquenta do clima do livro de hoje.


"Juntei meu desinteresse em cerveja com meu interesse em fazer você ficar à vontade aqui e fiz questão de não decorar os nomes."


Madu passa os dias ocupada com os estudos da faculdade e assistindo a séries. Sua pacata rotina é interrompida a partir de um rock'n'roll suave penetrando sua janela, seguido de um grito no corredor e um bilhete deixado à porta com um pedido de desculpas pelo incômodo.

Tão logo o bilhete vira presente (hummm… incenso de canela), a Madu é revelada a autoria de tudo isso: Henrique, seu novo vizinho, com quem inicia uma amizade, a princípio, sem grandes intenções. Aos poucos e com muito papo-cabeça sobre tudo, a relação avança a mais do que uma amizade colorida.


"Desde esse momento na noite, ansiou por um momento em que pudesse lhe dizer que sim. Fosse lá o que ele estivesse tentanto lhe pedir. Seu carinho por ele só fazia crescer."


Esqueça toda e qualquer expectativa que você venha a ter com este livro: Madu surpreende até os possivelmente preparados para ele; isso porque os assuntos transitam entre cultura pop e cult, vivências e medos, traumas do passado e do presente, tecnologia e sociedade: tais tecem o elo de Henrique e Madu, iniciado a partir de um vínculo mental, terminado em tórridos momentos, narrados de forma descontraída e com diálogos ricos.

Madu e Henrique também funcionam bem isolados, isso graças às personalidades únicas e dilemas próprios. Temas delicados, como transtornos psicológicos (depressão e claustrofobia), assédio e alienação causada pela internet, estão inseridos na trama de maneira natural, de forma a realmente nos empatizarmos pelos personagens.


"Me acha inteligente? Nossa!, fico muito feliz. Mas por que essa, ah... sugestão de menosprezo? Não me parece adequado. Quer dizer, a maior parte das pessoas não é tão inteligente quanto você. Olha só seu trabalho com superbactérias. A maioria das pessoas não entende a evolução, só daí já tiramos a maior parcela da sociedade."


O romance do casal se desenrola sob uma perspectiva de dinâmica positiva das relações modernas: duas pessoas solitárias e abarrotadas de problemas que se unem em prol não de buscarem a felicidade uma na outra, mas porque estão dispostas a entenderem a si próprias e se curarem, para isso, ao lado de parceiros que lhes fazem bem e curtem as mesmas coisas.

Madu é uma obra concorrente ao Prêmio Kindle de 2021. Li pelo KU.


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