Análise de Crime na mansão Müller, de Mirna Micheli Nesi.
"– Meu nome é Clara. Arrematei num leilão uma mansão abandonada e...
O detetive a interrompe, completando sua fala.
– E, fenômenos paranormais estão acontecendo com frequência.
– Sim... Estou ficando apavorada. Nunca tinha presenciado coisas assim.
Clara relata aparições fantasmagóricas, barulho de tiros no antigo escritório do último proprietário, passos pela casa em cômodos vazios."
Já pararam pra pensar por que muitas das histórias que abordam o sobrenatural possuem pelo menos um personagem cético? Porque os autores sabem que o primeiro medo a ser explorado é o do desconhecido. Veja bem: não estou dizendo aqui que todo cético tem medo do desconhecido, e sim que esse é um argumento narrativo que costuma estar presente nesse tipo de história (tem que deixar bem explicado o óbvio, sabem como é).
A verdade é que o desconhecido assombra a todos, crentes ou descrentes, pois queremos saber de tudo, precisamos estar no controle de tudo. O amanhã é um monstro terrível que a muitos assusta.
Mas o livro que trago hoje mostra que nem sempre saber de tudo é um privilégio.
"Perto do Palácio Tiradentes, nome dado a construção onde se situa a delegacia, Charles observa a cerca azul acima no muro baixo de tijolos passar rápido. Seu olhar pensativo não esconde a pressa em vasculhar os arquivos. Além disso, o pesadelo não o deixa. Da última vez sonhou que estava dentro da mansão em chamas. Ele sente que seus sonhos estão lhe enviando um aviso. Não seria a primeira vez que isso acontece durante uma investigação."
O detetive paranormal Charles Queiroz vem tendo uma série de pesadelos dos quais nada se lembra ao amanhecer. Em meio a outro deles, é despertado com uma ligação de uma mulher que comprou uma mansão abandonada cuja história é regada a tragédias iniciadas a partir de um crime tido como solucionado. Diante do relato de aparições fantasmagóricas, vultos e demais fenômenos estranhos, Charles toma seu assistente Daniel para, juntos, descobrirem que, ao contrário do que dizem todos, a culpa nem sempre é do mordomo.
"Ele sofreu uma quebra no osso hioide, logo ele morreu enforcado e não eletrocutado como afirmou o laudo da perícia. Alguém matou Marcos na banheira e fez parecer que a morte dele foi por eletrocussão e matou Evelise com alta dose de insulina."
Por ser o tipo de leitora que evita ler sinopse, confesso que a história me surpreendeu do início ao fim, a começar pela união do tema policial investigativo com o sobrenatural tecido de uma forma dinâmica que te amarra às páginas. Isso, somado ao tamanho do livro (55 páginas), fez com que eu lesse de uma vez só, sem intervalo.
Apesar da história ser ágil, os personagens são bem construídos e a autora usa de metalinguagem para fazer críticas ao gênero investigativo, garantindo uma leitura gostosa e recomendada para sair daquela ressaca literária brava.
Li pelo KU.
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