top of page
Foto do escritorEliza Edgar

Verossimilhança




Tive um aborto retido há oito anos. Descobri no meu primeiro ultrassom de rotina, com 12 semanas de gravidez. O bebê estava com o tamanho de um feto de 7 semanas, o que indicava a gestação ter se interrompido um mês antes da data do exame. Os médicos fizeram mil indagações, perguntaram se eu havia sentido alguma dor, se andava tendo sangramento etc. Mas nada tinha acontecido. Nada de nada. Fui encaminhada para passar pelo processo de curetagem. Pra quem não sabe, é um procedimento para a limpeza do útero, que precisa até de anestesia raquidiana ou peridural.

Durante minhas 48 horas de internação, conheci uma moça, que chamarei de Graziela (nome fictício). Graziela internara por causa de uma morte súbita fetal, o bebê dela estava com 21 semanas. Graziela não passou por curetagem, teve um parto induzido.

Graziela e eu tivemos alta no dia seguinte aos procedimentos. Nenhuma saiu do hospital com explicações satisfatórias a respeito do que acontecera às gestações. Os médicos apenas disseram que "acontece".

E a vida real dá dessas. Muitas coisas acontecem, nunca saberemos todos os porquês e motivos; e isso vale tanto em relação às atitudes e decisões que as pessoas tomam, como para fatos quais a ciência deveria ter uma explicação.

Guarde isso quando for escrever: não explique tudo, porque nem tudo tem uma explicação.


"Tá, mas e a tal da questão da verossimilhança para histórias de ficção?"


Verossimilhança na ficção não significa ter que explicar tudo, e sim fazer tudo parecer verdadeiro. Verossimilhança é criar uma ligação entre os eventos, de modo a convencer o leitor a acreditar na história, e acreditar na história leva o leitor a se envolver.


"Ahhh, mas isso é impossível na fantasia!"


Nãnaninanão! Obras fantásticas, para serem consideradas boas, precisam de tanta verossimilhança quanto outros gêneros. Por isso chegou o momento de falarmos sobre os dois tipos de verossimilhança possíveis numa obra de ficção.


Verossimilhança externa


É quando se busca apoio no que acontece em nosso mundo real. Por exemplo, quando o teu personagem torce o pé, ele precisa agir como uma pessoa real que torceu o pé; claro que há uma série de fatores que direcionarão a reação desse personagem nessa situação (condicionamento muscular, adrenalina, o quão feia foi a lesão, se ele já estava debilitado etc.), mas todo o porquê de como se desencadeará o evento precisa ter amparo nas possibilidades da vida real para convencer e levar o leitor a um vínculo afetivo com o personagem e o ocorrido.


Verossimilhança interna


Seu universo precisa fazer sentido, ser bem amarrado, mesmo que no teu universo as pessoas nascam com a pele verde e os cabelos azuis. Você não precisa explicar por que os personagens do seu mundo nascem com a pele verde e os cabelos azuis, mas precisará explicar caso um personagem nasça de pele azul e cabelos verdes, pois quebra uma lei instituída no seu universo. Esse personagem precisa de um motivo para nascer diferente. Diferente da verossimilhança externa, todo o amparo da interna deve se encontrar nas leis do universo criado pelo autor, e elas devem fazer sentido.





5 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


Post: Blog2_Post
bottom of page